Te Vejo

Tem dois dias que encandeço e nada decanta.
A vida tem cor, tá tudo ali fora e os varais balançam roupas coloridas ao vento; são tantos os ventos que nos levaram e quase os mesmos me trouxeram de volta.
A gente nunca volta, estamos sempre indo. Fui embora de nós dois e isso dilacera todo o verão que existe em mim. Descansar meus pés cansados nos mares de ti era o suficiente pra sorrir sem dor, mas sem o descanso, que descaso com nós dois.
Peito é alento e nele corre tudo solto. Bons papos e pingas andaram escassos entre rédeas e deveres.
Agora seu abraço é só uma lembrança que tento recuperar no cheiro, no encaixe, na sensação do que nós misturávamos entre velhas fotos e nossos primeiros longos beijos.

Nunca me importa a localização geográfica e andei passeando entre memórias e pensando em tudo que mudaria pra que pudéssemos existir de novo. Parece uma daquelas coisas que de tão belamente distantes vão morar em um texto, uma frase, uma canção, uma ocasião outra que não pertence a nós, e provavelmente se eternizará lá pelo Rio de Janeiro, cantada em algum bar, onde outros amantes, de outras vidas já sentem tudo tão diferente desde o último carnaval.

O meu sangue corre muito quente em rios claros pra eu deixar de sentir e te dizer que estamos a um passo de qualquer coisa dessas que escolhemos. Isso tudo foi pra dizer que te vejo e vou preencher todos os buracos da sua ausência com tudo que me faz hoje ser um pouco você, sem deixar de ser toda essa performance que mora em mim espontaneamente, no mundo que chamamos um dia de nosso.

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