UNA

Esse dia amanheceu diferente. 

É  verão, verão paulista e seco.

Minhas mãos estão molhadas de desejo e sem saber por onde começar, toda à vontade invade o ser.

O reinvento de tudo é necessário e faço um percurso leve de toda a vida até agora para saber exatamente onde não ir, onde ficar e o que investigar.

Estou cansada da novela. A vida maltratada, os ângulos inadequados em foco... aquelas coisas que afastam o amor e trazem à tona a supremacia da maior realidade inventada.  Aquela sustentada nos pilares do que é ser um ser humano, a manipuladora e chave maestra que não admite o ato de estar presente.

Eu abandonei diversas coisas e as coisas estão para serem abandonadas nessa matemática; faz sentido decrescer as construções, livrar-se de padrões  e continuar abandonando, até que enfim possa alguém se enxergar no meio de toda bagunça construída e acreditada.


Os meus 28 anos bateram à porta e percebo que não quero mais dar passos largos não sendo eles meus, nem fazer caminhos distantes quando a chegada pode ser mais curta e, não digo isso pela distância, mas sim pela essência do caminho - quero dizer, é preciso evitar caminhos desnecessários que prolongam a viagem, se possível - não levar histórias adiante sem que elas ainda sejam.
Mas esse aprendizado é feito pelo caminho desdobrado; não seria se não tivesse sido e com honra, me despeço dos pedaços.

Perde-se muito ao desgastar-se no excesso de todas as coisas. Perde-se o trivial, à deriva, o sabor de ser livre, vivo, de ver(i)ficar, de ter e soltar.

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